Ruin Bar Pivzavod: como uma colaboraçao bi-centenária criou uma cervejaria moderna em um edifício histórico russo

Localizada no coração do Oblast de Nijni Novgorod, na Rússia, o bar mexicano une contemporaniedade e história.

Quão relativo é o tempo para a arquitetura? Há 134 anos, em 1888, o arquiteto russo V.M. Lemke construiu este edificio comercial no centro de Nijni Novgorod, no onipotente Império Russo. A cidade, capital do distrito de Privoljski, fundada no século XIII, antecede a descoberta europeia das Américas e, por conseguinte, a existência do Brasil.

V.M. Lemke (BnanMMup MakcHMOBHY JIEMKE, em cirílico) era uma figura de status ímpar na cidade de Nijni, transitando pela elite cultural russa. Entre as diversas construções assinadas pelo arquiteto, a casa em que viveu, entre as ruas Korolenko e Novaya, recebeu figuras como o Nobel de literatura Ivan Bunin e o médico e escritor Anton Tchekhov. A grande residência compartilhada com o jornalista ucraniano Vladimir Korolenko – foi um antro de intelectuais, escritores, médicos e professores; nela, Máximo Gorki viveu e escreveu clássicos, como O Pequeno Burguês.

A dois quilômetros de distância da morada, Lemke assinou o edificio comercial sob filantropia do milionário Nikolai Aleksandrovich Bugrov, conhecido por auxiliar desabrigados durante os rigorosos invernos russos. Bugrov havia construído um abrigo em um local de grande contraste social, onde circulava muito dinheiro e, ao mesmo tempo, haviam muitas pessoas em mendicância. Por causa dos gastos elevados, o filantropo solicitou a Lemke que construísse um prédio comercial, cujos lucros seriam transferidos para pagar as despesas da hospedaria.

Após a conclusão das obras, o espaço foi ocupado por armazéns, oficinas, fábricas e galerias comerciais. Embora o propósito do edifício tenha mudado diversas vezes, os antigos interiores de tijolos vermelhos, um arco e até mesmo vigas de madeira no teto permaneceram preservados. Pequenos detalhes do interior não sofreram com o passar do tempo, como, por exemplo, os suportes de aço montados na parede.

Ruin Bar Pivzavod mescla a preservação histórica do local com um mobiliário moderno e aconchegante.

Passados mais de um século da construção do local, o jovem designer Alexander Frukht recebeu a missão de transformar o segundo andar do prédio em uma das instituições mais nobres e festejadas da Rússia: um bar. Assim como no térreo – já ocupado pelo Rozas, bar mexicano -, o espaço é setorizado com ambiente gastronômico. Assinando pelo seu estúdio, Fruit Design, Alexander projetou o estabelecimento de modo a deixá-lo com uma preservação intacta, sem reformas estruturais desnecessárias.

Com um ambiente rústico, de certa forma desgastado, o espaço, em ruínas, deu nome o local: Ruin Bar Pivzavod. A apreciação histórica da instalação divide seu espaço com um mobiliário moderno e funcional, brutal e ao mesmo tempo aconchegante.

Logo no hall, quatro cabines se enfileiram em uma estrutura metálica, separadas por divisórias em vidro reforçado. Na primeira, há um cabideiro para os sempre essenciais casacos; as outras três têm mesas e bancos. Em frente às cabines, mesas dispostas em sofás de estrutura metálica dividem o espaço do salão central e tornam o hall mais confortável.

Ainda no primeiro ambiente, duas grandes mesas – pensadas para happy hours ou reuniões de empresas – perfilam a parede lateral com três janelas. Sobre elas, lâmpadas pendentes foram especialmente produzidas em homenagem aos clássicos candelabros de cristal.

O estilo industrial pode ser notado por todo o espaço centenário. No centro do segundo salão, outra grande mesa, com base em blocos de concreto, dá ares ao local, ponto de encontro de grupos de amigos – o nome Pivzavod é uma referência regional para cervejaria. Acima dessa mesa alta, um imponente lustre de vidro de três níveis, traz um efeito quase palaciano no espaço fabril. No mesmo ambiente, a cozinha aberta também tem estrutura feita em blocos de concreto e bancadas de madeira. Mesas menores, para dois ou quatro, e com iluminação baixa se espalham pelo salão.

A bancada do bar, ampla e fascinante, percorre boa parte da parede do segundo salão. Bancos altos percorremo móvel curvo, que impressiona pela carta de drinks e cervejas. Entre os mais de 100 tipos de bebidas servidas no balcão – incluindo uma cerveja própria do estabelecimento -, garrafas clássicas e drinks consagrados se misturam com opções diferentes. A reverse tap (máquina que serve a cerveja a partir do fundo do copo), por exemplo, é apreciada por grande parte dos clientes. 

Os toilets se localizam em um cubo de metal com aparência de oxidado, instalado entre as duas paredes de tijolos que separam o segundo e o terceiro ambiente. São seis cabines e lavatórios, que não fogem do estilo bruto do local. 

No último ambiente, mais amplo e sem mobiliário, há um espaço para balada e eventos, com pista, palco e bar integrado à cozinha. Embora o Ruin Bar Pivzavod tenha inaugurado há pouco tempo, na segunda metade de 2021, o local já foi palco de shows, stand-ups, festas temáticas e até mesmo um evento de luta livre. A rusticidade do prédio não é impeditiva aliás, é muito bem recebida – para que os jovens russos lotem a casa.

Com elementos preservados desde sua fundação, há 134 anos, passando pela queda do Império Russo, e itens da antiga URSS, que perdurou entre 1922 e 1991, o estabelecimento é símbolo da preservação histórica de um país. Tombado como patrimônio cultural dos povos da Federação Russa, com importância regional, o “Edifício comercial da cidade de Nijni Novgorod, construído com doaçöes de Nikolai Alecksandrovich Bugrov” é uma ponte entre a arquitetura de Vladimir Maksimovich Lemke, V.M. Lemke, no século XIX e o design de Alexander Frukht, do Fruit Design Studio, no século XXI.

Mesas para duas ou quatro pessoas, e com iluminação baixa, se espalham pelo salão. No mesmo ambiente, fica a cozinha aberta com estrutura feita em blocos de concreto e bancadas de madeira. Em destaque, uma grande mesa, também com base em blocos de concreto, e o imponente lustre de vidro.

Leia a matéria completa na edição 168 da Revista Decor.