Restauração transforma antiga usina de açúcar em hotel

Condenada à demolição, usina histórica à noroeste de Varsóvia, Polônia, foi transformada em um grande complexo de hotelaria

Żnin, Polônia. É nesta pequena cidade com pouco mais de 8 km² – sim, oito quilômetros quadrados – em que está localizado o Cukrownia, um complexo de hotelaria estabelecido em uma antiga usina de açúcar. A fábrica, construída no final do século XIX, funcionou até 2004 com a produção de açúcar de beterraba. Mas a história do grande complexo de edifícios – que chegou a ser designado para a demolição – era significativamente grande demais para ser interrompida.

O empreendimento original iniciou sua produção em 1894, empregando a maior parte da população da cidade por quase 100 anos. Por sua história, a fábrica de açúcar manteve-se erguida durante mudanças políticas radicais, conflitos, a invasão nazista que deu início à Segunda Guerra Mundial e, como em toda a Polônia, a dor da perda de muitos de seus trabalhadores.

Apesar do período de repressão – que se iniciou logo no primeiro dia de guerra, quando nazistas bombardearam a cidade, passando pela invasão e até mesmo mudança de nome, para Dietfurt – que durou até 1945, a fábrica não teve seus alicerces comprometidos e seguiu em pleno funcionamento. Em 1950 a fábrica foi estatizada, mantendo a relevância de maior contratante da cidade até 1989.

O apagamento chegou em 2004, quando a usina fechou após mais de um século de glórias e tormentos. E permaneceu assim. Foi somente em 2015 que o grupo hoteleiro ARCHE adquiriu o complexo com o objetivo de renovar a fábrica e reavivar os valiosos, mas arruinados, edifícios. O projeto, revivendo a memória afetiva da cidade e de todos aqueles que fizeram parte, visou respeitar o seu valor histórico, as mudanças que foram feitas ao longo de gerações e a sua diversidade estética e técnica.

A equipe de restauro contou com a minuciosa e acurada arquitetura da Bulak Projekt, que desde o início do projeto concentrou-se em preservar a história do edifício, mantendo quase todos os elementos da antiga fábrica, incluindo parafusos e sobras de chapas. Elementos menores também foram mantidos e incorporados ao design de interiores e, coletivamente, todo o projeto manteve sua autenticidade natural. Ao entrar no hotel, a primeira impressão é que ainda serve como uma “fábrica”, com estímulos sensitivos e visuais que vão desde o consagrado estilo industrial até características emocionais de intimidade e aconchego. Em sua totalidade, o complexo é composto por 27 edifícios. Nenhuma das estruturas existentes foi demolida e todas receberam novas funções.

O edifício principal do hotel apresenta acomodações 4 estrelas, incluindo quartos, um restaurante e salão de conferências. No segundo edifício está um hotel de 3 estrelas, com piscinas, um SPA e uma cervejaria. O terceiro prédio abriga um auditório com capacidade para 800 pessoas, além de um cinema e um restaurante com espaço para eventos.

O hotel Cukrownia está localizado próximo ao centro histórico de Żnin, à beira de um lago que fornecia água à fábrica, e agora faz parte da oferta recreativa do local, com condições ideais para windsurf e esportes aquáticos motorizados. Para isso, o escritório de arquitetura também reservou um espaço – em frente ao lago – para a marina, com restaurante e área de recreação.

Por causa da magnitude do empreendimento, Bulak Projekt contou ainda com a colaboração dos designers da MML (Mili Młodzi Ludzie) e MIXD Architekci. A múltipla colaboração – que foi muito além dos projetos de restauro e interiores – também teve desempenho do escritório municipal, assim como a contribuição dos ex-trabalhadores da fábrica de açúcar. Os principais autores deste projeto premiado incluem o presidente do grupo Arche, Władysław Grochowski, que viu o potencial do edifício condenado, o arquiteto e designer-chefe do projeto, Marek Bulak, e o arquiteto Piotr Grochowski. Ao fim, um símbolo foi restaurado na pequena cidade de Żnin, que, apesar do tamanho, tem grandes histórias para serem contadas e novas histórias a serem criadas neste magnífico complexo de 360 mil m².

Leia a matéria completa na edição 170 da Revista Decor.