A paisagem bucólica da pequena cidade de David Canabarro, entre o Planalto Médio e a Serra Gaúcha, faz da Casa Trapézios o local perfeito para se viver. Inserida em uma borda urbana, cercada por araucárias que coroam seu telhado, a morada fica em um terreno platô elevado de formato trapezoidal. Pensado para um jovem casal que tem estreita relação com a vida no campo, o projeto é assinado pelo Studio KUNZ.
Do lado de fora, a casa de 170 m² é uma reinterpretação do arquétipo da casa com telhado de duas águas, desconstruída para formar duas seções trapezoidais justapostas. Um destes trapézios é projetado sobre um retângulo estendido até o limite do terreno, enquanto o outro, recuado, abriga a entrada principal acessada por uma escadaria. Dessa configuração nasce a volumetria. Com seus ângulos oblíquos, os trapézios acentuam a perspectiva e dinamizam a fachada.
De acordo com o arquiteto Maurício Kunz, estruturalmente, a casa é formada pela extrusão de dois trapézios. As lajes inclinadas compõem tanto a estrutura do telhado como o teto interno, mantendo as linhas oblíquas da fachada em todos os ambientes. Para viabilizar a superfície contínua do teto, vigas invertidas foram usadas em toda a edificação. Já os ripados de madeira, instalados na vertical, equilibram a composição horizontal das fachadas leste e frontal. A pedra ardósia, por sua vez, confere um contraste às formas puras pela sua rusticidade e textura.
A configuração interna desenvolve-se em dois níveis espaçados sutilmente por três degraus, diferença evidenciada pela fachada que também reflete a divisão funcional dos espaços internos. Mais baixa, a área social comporta o acesso principal na fachada e o acesso secundário pela garagem, conformando um L no entorno da área íntima. Para manter configuração térrea da edificação, a garagem fica nos fundos da casa, sendo acessada pela suave rampa que tem início no portão dianteiro dissimulado no ripado de madeira.
Do lado de dentro, o espaço da sala e cozinha é amplo e fluído. Os materiais, como madeira, linho e cimento queimado, são evidenciados pela cor branca das paredes e do teto, em acabamento monolítico. A lareira e o fogão à lenha complementam o aconchego necessário para o inverno gaúcho.
Da sala, as vistas abrem-se para as quatro direções. A circulação transversal, que conecta a sala à suíte, culmina numa esquadria com vista para a mata adjacente ao terreno. Já a esquadria próxima à mesa de jantar, voltada para oeste, é protegida por um pergolado de madeira que serve como suporte para plantas trepadeiras.
Na suíte, a vista para as copas das árvores é emoldurada pelo volume branco, enquanto a continuidade do teto na sacada permite a sutil transição do espaço interno para o externo, demarcada somente pelo perfil metálico da esquadria.
Pela conjunção de materiais e formas, a Casa Trapézios, mesmo urbana, adquire ares de uma casa de campo. Um lar envolto de natureza para aproveitar cada minuto vivido ali.