A interdisciplinaridade de Mariana Prestes

Sob o domínio de diferentes áreas – da comunicação às artes visuais –, a designer carrega uma bagagem cheia de referências e progênie
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Com a carreira iniciada na publicidade e vocacionada para a arte, Mariana Prestes, 35, divide seu lar e trabalho – e, até pouco tempo, estudos – entre os mais de 10 mil quilômetros que separam o Rio Grande do Sul e a Lombardia. Formada na PUCRS, com passagem pela UFRGS e pós-graduação no Istituto Marangoni, em Milão, a profissional destaca-se pela presença no Prisma Project – seleção de melhores ex-alunos do Istituto Marangoni Milano Design School –, que lhe rendeu parcerias com importantes marcas do design italiano.


REVISTA DECOR – Você cresceu sob grandes influências da arte e da comunicação dentro de sua própria casa, e iniciou sua carreira na publicidade. Como foi esse início e o que te fez migrar para o design?

MARIANA PRESTES – Quando pequena, convivi com muitos artistas visuais graças aos meus pais. Aos domingos geralmente íamos na casa e atelier do Iberê Camargo e o via pintar. Eu tive a sorte de ser a única criança que ele gostava e convivia, e assim tive a oportunidade de conviver de forma imersa naquele espaço, ver o artista em ação e inclusive ser retratada no colo da minha mãe. Assim, quando pequena, eu dizia que seria “desenhista”. Sempre fui aquela criança que com um papel em branco e canetas ou lápis de cor passava horas desenhando histórias, personagens, figuras. Naquela época, o meu dindo de casa, Humberto Vieira, atuava não apenas no teatro, mas como publicitário e artista. Compartilhava comigo as experiências criativas dele com a comunicação, o que me estimulou e muito. 

Quando estava perto do momento da escolha de qual curso se inscrever no vestibular eu parei para refletir sobre o que eu realmente gostava. Cheguei a conclusão que eram duas grandes áreas: Artes e Natureza. Assim, comecei a observar quais cursos tinham dentro desses dois guarda-chuvas. Então resolvi olhar com mais carinho a área das Artes: arquitetura eu não quis, pois queria fugir da matemática e estudos de escala, artes plásticas (que depois viraram artes visuais) me interessava, mas naquela altura eu não queria ser só artista. Foi quando me encontrei na inspiração do Humberto Vieira: escolhi Comunicação Social – Publicidade e Propaganda e também Artes Visuais com ênfase em Desenho. O objetivo seria trabalhar no setor de criação de uma agência de publicidade. Na época as campanhas da WWF para salvar a Floresta Amazônica, proteger a natureza, me emocionaram e eu queria, através da criação na comunicação, abranger o grande público e tentar fazer a diferença pelo meio ambiente, pelo mundo.

É claro que na prática a rotina em uma agência de publicidade é bem diferente daquela que imaginei. Percebi que não queria criar e-mails marketing, logos, anúncios comerciais e então troquei a ideia de trabalhar com criação para ser atendimento publicitário. Claro que no início foi interessante, pois iniciei trabalhando com marcas de moda e esportivas e também com o nosso próprio museu de arte, o MARGS. Para ele, desenvolvemos campanhas incríveis convidando a todos para visitar as exposições com Cézar Prestes – sim, meu pai era diretor do museu naquela época –, e com o ingresso solidário de 1kg de alimento doar e ajudar outras milhares de pessoas. Foi muito lindo e gratificante.

Trabalhei durante 7 anos como profissional de atendimento, executiva de contas, até o “olho não brilhar mais”. Comecei a sentir falta de algo criativo, que fizesse mais sentido para mim e um impacto positivo para as pessoas em geral. 

Foi quando tive um sonho: sonhei que estava pintando em aquarela uma borboleta (o que é significativo, por simbolizar a metamorfose) e ela seria transformada em estampa, era um trabalho profissional, e eu estava completamente realizada e feliz. Logo que acordei fui conversar com a minha mãe, Eleone Prestes, jornalista que criou o caderno Casa&Cia e já estava há mais de 10 anos na área da comunicação em arquitetura, design e arte. Perguntei o que significava aquele sonho. Ela respondeu: “pois estou há horas querendo falar para ti sobre design de superfície!”. E eu “design do quê?!”. “Design de superfície!” e então me explicou que dentro dele existe uma infinidade de possibilidades, materiais e áreas de atuação. Fiquei encantada! Naquela época eu ainda trabalhava em agência de publicidade e cursava Artes Visuais na UFRGS. Foi interessante porque anos antes eu fiz uma cadeira eletiva de aquarela e confesso que não gostei. Achei a técnica tediosa, com muitas regras, monótona mesmo. E com o sinal do sonho e ao pesquisar mais sobre ilustrações, estamparia e cia percebi que era uma técnica rica com infinitas possibilidades de efeitos, usos e aplicações. Resolvi dar uma segunda chance para os materiais que tinha da época faculdade, uns 5 anos depois do primeiro contato. Resultado: adorei! E vi que através do design era possível contar uma história e, dependendo do projeto é claro, ajudar o meio ambiente. Foi assim que decidi sair da área da comunicação e entrar no design. Minha “porta de entrada” foi a superfície.

DECOR – A figura publicitária ainda reside em você? Você enxerga essa veia em seu trabalho artístico?

PRESTES – Com certeza reside. Logo que fiz a transição de área alguém comentou para mim: “que pena que você não começou antes no design. Perdeu alguns anos na publicidade, né?”. Eu não concordo. Eu acredito que quem somos hoje é o somatório de todas as experiências que já exercemos. A Mariana publicitária segue com a Mariana artista que somadas resultam na versão designer de hoje. Graças aos anos de experiência com publicidade, como atendimento publicitário, hoje sou uma profissional que sabe como se comunicar com um cliente, como fazer uma apresentação e defender um projeto, uma ideia. Vejo muitos colegas criativos que são mais tímidos e têm dificuldade em se expressar, em comunicar o que criaram. Se percebermos, hoje, tudo é comunicação. Um bom design deve falar por si só, mas é apaixonante quando o criativo consegue transmitir a paixão dele que gerou aquele resultado, explicar a história, sua inspiração e o processo que levou àquela versão final. Então sim, a versão publicitária está em todos os momentos presente, desde o momento de conversar com um cliente para pegar o briefing do projeto ou produto que vou desenvolver até à apresentação do projeto final para ele. Mais do que vender a ideia, é emocionar. Para quem já passou por clientes do setor da moda, esporte, arte, indústria e do setor financeiro, defender o que acredito, o que eu criei, é um prazer imenso. 

Leia a entrevista completa na Edição 171 da Revista Decor