As ruas enumeradas ao lado oeste da ilha de Manhattan, coração de Nova York, guardam tradicionais casas geminadas datadas do século XIX, quase todas em terracota. Cenário de muitas histórias e lendas, a West 10th street é uma dessas ruas. Muito perto de seu final, entre as 6th e 5th Avenues – entre as mesmas avenidas em que, a 1,2 milhas dali, está o Empire State Building – encontra-se a monumental residência reformada pelo casal de designers britânicos Rebekah Caudwell e Nicolas Dupart.
Nesta mesma quadra, residiram o escritor Mark Twain, a poetisa Emma Lazarus e o dramaturgo Edward Albee. Apenas algumas poucas histórias da west tenth street, entretanto, caberiam neste espaço dedicado ao logradouro de número 37. O casarão data de meados do século XIX, provavelmente 1830, quando a rua ainda chamava-se Amos street (em referência a Richard Amos, latifundiário daquelas terras).
Os quase 200 anos de história daquela residência, que nos anos 1970 fora dividida em sete apartamentos, vieram à tona com a reforma, mesclando o passado com o presente. O local foi totalmente reintegrado em uma só casa e, durante 5 anos, teve seu design interior reconstruído do zero.
A designer Rebekah Caudwell, que comprou a residência para reformar, cita a beleza do minimalismo para se contrapor ao mesmo: “o minimalismo de grandes nomes, como Axel Vervoordt, são os mais bonitos e espirituais, mas eu nasci maximalista e provavelmente morrerei assim”. O projeto, que totaliza 10 mil pés quadrados (algo próximo de 930 m²), divididos em 5 andares, não parecia grande o suficiente. A solução foi aumentar para baixo: foi escavado um subsolo abaixo do porão para construir adega, sala de jogos, cinema e SPA.
Para valorizar o espaço, muitas paredes foram derrubadas e ambientes foram transformados. O cenário, antes destruído pelo tempo e falta de manutenção, tomou novos ares. Cada ambiente foi pensado para ser único.
A cor arrojada dos cômodos traz um contraste desordenado (mas com curadoria). No salão, um tom azul escuro predomina o ambiente artístico. Já a cozinha, com pé-direito de 6 metros e mezanino iluminado por uma clarabóia de 7 metros de largura, é clara e radiante. Seus seis dormitórios têm características únicas e poderiam muito bem ser chamados de “temáticos”.
Para além, a casa é repleta de arte, pinturas, desenhos e fotografias. Rebekah conta que utilizou artistas jovens e em desenvolvimento. “Lecionei História da Arte durante três anos na Itália e foi incrível! Nossa coleção não pretende trazer alguém particularmente astuto ou conhecido do mundo da arte”, completou a designer. Ao invés disso, trouxe o reconhecimento para alguns artistas: Natalie Frank, Bradley Theodore, PatriciaTraub, Rachid Bouhamidi, Pieter Hugo, Beth Carter e Philip Thomas.
Concluída em 2019, a reforma do logradouro marca não apenas a preservação da arquitetura neogrega na chamada vizinhança “Gold Coast” do bairro Greenwich Village, mas também a exuberância da história de Nova Iorque e da ilha de Manhattan. “Com belas proporções, luz serena, paisagens pacíficas e grandes janelas de guilhotina, estava claro e eu tive aquela sensação de borboletas na barriga; a adrenalina que vem quando você sabe que encontrou o local certo”, descreve Rebekah, “eu estava em casa”.