Cabana é algo primordial. A primeira forma de habitação construída pelo ser humano e a construção mais variavelmente representada em diferentes culturas, que remonta o abstrato. É neste universo, em uma contemporaneidade inclinada a amar cabanas, que Naindry Arquitetura desenvolveu a maior parte – mais de 80 – de seus projetos. Porém o reconhecimento internacional, validado pela presença de projetos no exterior, não exprime tanto sentimento quanto aquele que está no local em que cresceu: Urubici, uma cidadezinha com pouco mais de 10 mil habitantes, com invernos brancos e paisagem singular, lar da arquiteta e logradouro de seu projeto.
O casamento entre o rústico e o contemporâneo se dá à primeira vista, antes mesmo de acessar a morada. A sólida estrutura de metal revestido com madeira forma uma pequena varanda, enquanto poltronas convidam para uma conversa ao ar livre. O caminho de pedrinhas leva à fachada descoberta pela parede de vidro ou recôndita pelas grandes cortinas que tocam um pé-direito de até 5,95 metros.
Ao entrar no lar, outro elemento empreende protagonismo: a parede de pedra que dá fundo ao living integrado à cozinha. Na lateral esquerda, o living conciso se limita a um confortável sofá de couro, em frente à lareira, e um painel de televisão. Os tons de cimento queimado percorrem a cerâmica do piso e sobem a parede iluminada por arandelas.
No outro extremo do ambiente, a cozinha é dividida por uma bancada em dois níveis – um para refeições, outro para cocção e área molhada. Na parede oposta, uma churrasqueira une-se aos demais eletrodomésticos e aos vasos de plantas que incrementam um toque ainda mais natural à cobertura de madeira que desce do teto.
Ainda no primeiro andar, um portal nos transporta para um deck de madeira sobre o qual está uma banheira. A parede verde conecta o interior do ambiente com a vista para a exuberante natureza imersiva da serra catarinense.
O aproveitamento do espaço impressiona pela amplitude obtida em uma área construída de 90,4 m². Até mesmo a lavanderia demonstra acuidade e coesão com o restante do projeto, sem perder a funcionalidade.
Os próximos passos são em direção ao dormitório principal, um caminho que sobe as escadas helicoidais que conectam o primeiro ao segundo andar. Um roupeiro revestido por espelhos cria a ilusão de um A-frame no teto do closet, e a posição da cortina, duplicada no reflexo, deixa tudo ainda mais bonito. Atrás do closet está um ambiente cheio de lazer íntimo. Uma mesinha posicionada como recamier permite que a TV fique bem próxima da cama. O espaço se encerra com duas poltronas de couro posicionadas em frente às janelas que nesta altura dão vista para o verde denso do topo das árvores.
A simbiose entre os elementos escolhidos para todos os cômodos e a paisagem, que invade o lar através da luz natural e das grandes aberturas, evidencia uma conexão primordial entre o exterior e o interior.